domingo, 3 de fevereiro de 2013

Conto 02: 'A Escrava'

Conto com dose moderada de erotismo


'A Escrava'
Por Nazarethe Fonseca


O silêncio da limusine e o cheiro forte do charuto misturados ao perfume dele enjoava Helena. As sacolas de compras, repletas de roupas e sapatos, presentes e mimos, não a faziam feliz.

Dinheiro nunca fora problema para Valmont, que gostava de admirar a beleza de Helena, as roupas caras, as joias. O corpo frágil dela o atraía. Inclinou-se e aspirou seu cheiro. Helena manteve-se imóvel, e seus olhos se encontraram por um instante; ela foi a primeira a desviar o olhar. E permitir a caricia de Valmont sobre seus seios. Sabia até onde poderia ir. O carro parou. Valmont afastou-se, desceu e estendeu-lhe a mão amavelmente. Na calçada, deu-lhe o braço e logo seus ombros se tocavam. Ela suspirou e acompanhou o passo decidido. No saguão do hotel, não se aproximou do balcão; esperou a distância, quieta e elegante como de costume. Ele a mantinha distante dos olhares masculinos e desejosos sobre sua beleza. Estava acostumada a tais olhares, mas não como o de seu senhor. Ele a observou e sentiu seu medo, o receio, o tremor que percorria seu corpo enchendo-o de desejo. Jamais mudaria, pensou Valmont, satisfeito. Mas não era isso que apreciava nela, seu medo? A fragilidade, a submissão? Desejo ou amor, o que seria àquela altura? Segurou seu braço e a acompanhou até o elevador. Helena estava gelada, sentia frio constantemente, era o preço a ser pago pelo beijo.

Os criados, as malas, as gorjetas. Ela andava a esmo pelo tapete fino, observando mais um quarto luxuoso, vendo os objetos clássicos e caros da decoração com indiferença. A porta se fechou, ela estava diante da janela contemplando a noite, as luzes mostrando que havia vida abaixo de seus pés. A chave girou e o silêncio prosseguia, havia chegado a hora. Voltou-se e o viu sentado no sofá. Ele a fitava com intensidade. Esperava calmamente, mas o seu desejo precisava ser atendido, alimentado.

Helena tirou o blazer, os dedos delicados sobre os botões de pérola abrindo-os, desvendando-a. A pele alva surgiu perfeita. A saia deslizou pelo quadril, a roupa íntima de renda surgiu num misto de elegância e sensualidade. Seda cor de champanhe, meias finas, que ela tirou vagarosamente, sem pressa alguma. O olhar estava muito longe, perdido em um lugar desconhecido onde sua alma se abrigava naqueles momentos de absoluto distanciamento. As pernas agora expostas exibiam-se acetinadas. Ela estava nua e totalmente indiferente ao que se seguiria.

Caminhou na direção de Valmont, e seus passos eram seguros e decididos. O medo havia sumido, restando somente indiferença. Diante dele, parada, observando-lhe o olhar, aconchegou-se em seu colo, sentindo-lhe as vestes bem cortadas, elegantes. Sua mão sobre o terno, as mãos de Valmont em sua cintura.

O beijo veio faminto, ela já o esperava. Helena cravou as unhas em seus ombros largos e aguentou firme. Ele se afastou e sorriu, exibindo os caninos, a boca suja de sangue, enquanto os olhos brilhavam fascinantes. Distribuía delicados beijos sobre sua pele alva manchando-a com sangue. Valmont buscou-lhe o seio empinado, ela tremeu, ele a apertou junto a si temendo uma fuga.

Helena tirou o broche dos cabelos e a cascata cor de mel escorregou cobrindo o rosto de seu senhor. A carne cedeu, o gemido de dor escapou de seus lábios enquanto sentia as forças sumindo, o corpo amolecer, o prazer tomá-la por completo. O broche ainda estava em suas mãos, o arrepio de medo tomou seu corpo, o coração estava acelerado e um sussurrou escapou da boca manchada de sangue:

–Eu te amo Valmont.

O sangue molhou o sofá, o seu corpo nu. Valmont caiu ferido no coração. A mão estendida, o olhar surpreso, tentou se erguer mas não pode. O broche de marfim enterrado no peito, tal como estaca, fazia-o sangrar livremente. Mas não era o suficiente. Precisava terminar o que começara. A lâmina surgiu de sua mala numa clara premeditação. O golpe foi impiedoso e certeiro. A cabeça rolou. O carpete era um mar de sangue. Chorou por muito tempo vendo o seu sangue e o de Valmont manchando tudo à volta. O sangue de um vampiro de 542 anos. A ferida no seu seio ainda sangrava, em sua boca uma mistura única de vitória e sangue. Diante de seus olhos,o vampiro secava, desaparecia, seu maior medo e desejo sumiam debaixo da fragilidade de uma mortal, diante daquela que um dia havia sido sua escrava.

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